Deixe-me só com meus papéis, é só o que quero. Chega de almas pequenas, de palavras gastas. Chega desse nada que há dentro de você e que eu gostaria de tocar. É só isso o que me rodeia, então, deixe-me aqui, não me force a falar. Não me force a sorrir ou a ser carinhosa. Eu não sou assim.
Não me importo se há vestidos bonitos esperando por belos corpos. Eu me visto de mim. E me basta. Mas se você se importa, deixe-me aqui com meus papéis, com meu jeito esquisito de quem ri de tudo sem nem estar querendo rir. Rio pra fingir que sou leve. Pra não mostrar as rugas do meu peito. Os quatrocentos anos que carrego nas costas.
Mas vamos rir mesmo de vez em quando. Vamos rir muito, como eu gosto, rir pra fora e não pra dentro como tenho feito quando não me compreendem. E também vamos não rir nunca. De repente, é tudo tão trágico. E você sempre esse nada. Que perambula espalhando beleza pelas ruas. E eu aqui, a pensar, a pensar, com meus papéis.
E me ocorrem dúvidas sobre a acentuação das palavras. E é como se isso fosse o fim do mundo. Mas aí vejo novamente que nem importa. Aliás, importa. Mas não é o fim do mundo. E volto a viver.
Que bom que me deixou aqui com meus papéis. Essa solidão de quem escreve é pura. Dói, mas acalma. Faz vibrar alguma coisa que faz vibrar tudo. Quase como um orgasmo. Não qualquer deles. Intenso. Demorado. Como só quem faz sexo bem devagar pode saber como é. É bom se sentir de vez em quando.