Adaptar-se é uma forma de sobrevivência dos seres vivos. E por adaptação compreende-se as mudanças ocorridas com esses seres que se esforçam instintivamente para continuarem vivos. Podem ganhar ou perder características, de acordo com as necessidades do ambiente. Essas mudanças são graduais e perceptíveis a longo prazo. Essa adaptação de que os biólogos falam é estrutural e também possui limitações para cada espécie.
O ser humano também é um ser adaptável. Sob o ponto de vista biológico e evolucionista também, mas o tipo de adaptação que está me interessando é um tipo que não altera as estruturas físicas de ninguém – pelo menos não diretamente. O ser humano é um ser que sobrevive porque é capaz de se adaptar às piores condições de vida.
Por piores condições entende-se condições físicas e emocionais. Condições físicas, como a pobreza, o frio, a fome, ambientes hostis como as guerras etc; condições emocionais como a falta de afeto, a bajulação, a solidão etc.
Pensar nessas formas de adaptação, em que nós, seres humanos, nos submetemos a situações péssimas e extremas, faz concluir que adaptar-se em vez de louvável, é mórbido. Mórbido porque em vez de lutar para que as coisas mudem, escolhemos nos adaptar e conviver com coisas nocivas, suportar dores, carregar feridas.
Escolhe adaptar-se por exemplo, a mulher que aceita a traição ou as surras do marido. Escolhe adaprtar-se o filho que tolera as humilhações dos pais. Escolhem adaptar-se as pessoas que aceitam relacionamentos superficiais mesmo desejando sentimentos profundos. Os empregados que são destratados pelo patrão etc.
Adaptar-se não é mais cômodo, mas talvez seja mais fácil do que lutar por mudanças. Afinal, toda luta requer energia e desgasta o lutador. É mais fácil apanhar do marido do que sair de casa e enfrentar a vida, assim como é mais fácil ser humilhado em casa do que procurar outro lugar pra viver. É mais fácil empurrar um relacionamento com a barriga, fingindo felicidade do que ficar sozinho. E é mais fácil suportar um chefe arrogante do que ficar desempregado.
Adaptar-se, vale ressaltar, não é tarefa sem obstáculos, como pode parecer pelo emprego da palavra “fácil” no parágrafo anterior. Quem se adapta sofre cotidianamente e esse sofrimento vai causando desgastes constantes, que a longo prazo resultarão em feridas incuráveis.
A contradição está justamente aí: adaptar-se parece mais fácil, entretanto não é. Embora a luta requeira forças, suportar uma vida inteira de mágoas e escassez de alegria causa muito mais estragos do que enfiar a cara na vida e levar algumas porradas. Porque quando se escolhe mudar, embora venham os socos, em seguida - mesmo que isso demore – vem a mudança.
Sendo assim, adaptar-se a fim de sobreviver, dessa maneira, é mórbido e não uma forma de continuar buscando a vida, como acontece com os outros animais. Eles se adaptam para sua própria preservação, enquanto nós nos adaptamos e cultivamos nossa própria destruição. Então, fica a indagação: se adaptar-se é mais doloroso do que lutar, por que sempre optamos pela adaptação?