domingo, 1 de abril de 2012

Canção da desesperança

Toque. De olhos fechados. Você que ainda vai chegar. Você que ainda vai me fazer sorrir. Toque aquela canção e cante junto comigo. Aquela que eu canto desde sempre e que só você será capaz de reconhecer.
    Chegue num dia nublado. Eu já estarei pronta. Apenas abrirei a porta. Apenas sorriremos. Será como num sensível reencontro. Você com as rosas vermelhas, os sorrisos nas mãos. Amor nos olhos. E  tudo será diferente porque você chegou no tempo certo, na hora exata. Bem no momento em que eu abri a porta você estava lá.
    Você sabe ler. Você sabe ver todos os meus sinais. Você vê que eu transbordo pelos olhos, gotejo pelas pontas dos dedos.  E você verá a imensidão que há em mim. Você não é raso. Eu vejo a beleza da sua alma.
    Enquanto você não chega eu tenho que me vestir para a guerra. Eu tenho que enfrentar abismos; dentro e fora de mim. Eu tenho que conviver com o nada. Se não fosse exigir muito, pediria que chegasse logo. Pediria que não me deixasse secar e murchar. Chegue enquanto aida consigo sentir. Chegue enquanto ainda há intensidade.  Não, eu só peço  que chegue algum dia.
    Chegue, porque a guerra vai acabar comigo e não vai sobrar nada de bom pra você. Não vai sobrar nada nos olhos. Não vai sobrar  nada nas mãos. A poesia que eu guardei para você morrerá. Tudo se fará pedra.
    Se você demorar, encontrará uma estátua. Eu me visto pra guerra e me tranformo em pedra. Enquanto você não chega, vou me matando aos poucos. Não espere eu morrer para chegar.
    No fundo, sei que você não vem. Eu parei de fantasiar muito cedo. Parei quando vi que os vidros se quebram fácil. Os meus foram se quebrando rápido demais.

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